O que fazer quando o paciente não fala na terapia é uma dúvida comum entre profissionais: o silêncio gera dúvidas, inquietude e, às vezes, pressa para “preencher” a sessão. No entanto, o silêncio também pode ser parte do trabalho terapêutico, sinal de processamento, resistência, ou de comunicação não-verbal que merece atenção técnica e ética.
Neste texto, vamos entender o que significa o silêncio na terapia, como agir de forma sensível nesses momentos e de que forma a observação cuidadosa (inclusive com o apoio de tecnologia) pode ajudar o profissional a acompanhar melhor a evolução do paciente. Boa leitura!
O que o silêncio pode dizer
O silêncio é uma forma de comunicação. Ele pode indicar medo, resistência, confusão ou simplesmente introspecção. Como dizia Carl Rogers, um dos fundadores da abordagem humanista, o papel do terapeuta é oferecer um espaço seguro e de aceitação incondicional, e, muitas vezes, isso inclui suportar o silêncio.
Já o psicanalista Wilfred Bion via o silêncio como um momento em que o paciente ainda não consegue transformar emoções em palavras. Ele chamava isso de “elementos beta”: sentimentos brutos que precisam ser processados antes de virar pensamento.
Em outras palavras: o silêncio nem sempre é ausência. Pode ser um tempo necessário para que o paciente elabore o que sente.
Quando o silêncio é produtivo e quando pode ser bloqueio
Em muitos casos, o silêncio é parte natural da sessão. Pode vir depois de uma fala emocional, como um espaço de elaboração. Outras vezes, pode ser um sinal de que algo está difícil demais para ser dito.
O silêncio logo após narrativas importantes tende a estar ligados a maior insight, ou seja, momentos em que o paciente está processando algo internamente. Já silêncios longos e repetidos, sem retomada de contato visual ou mudança de postura, costumam sinalizar retraimento.
Saber reconhecer essa diferença é essencial para decidir o que fazer quando o paciente não fala na terapia. Isso exige sensibilidade, paciência e observação do contexto emocional.
Estratégias práticas para lidar com o silêncio em sessão de terapia
1. Permita o tempo
Nem todo silêncio precisa ser quebrado. Às vezes, o melhor que o terapeuta pode fazer é estar presente. Como lembra Irvin Yalom, em O Presente da Terapia, há momentos em que “permanecer em silêncio é oferecer espaço para o paciente encontrar suas próprias palavras”.
2. Nomeie o que está acontecendo
Dizer algo simples como “notei que ficamos em silêncio agora” pode normalizar o momento e aliviar a tensão. Isso mostra disponibilidade sem pressão.
3. Faça perguntas abertas
Em vez de tentar forçar a fala, perguntas como “O que está passando pela sua cabeça agora?” ou “Como é estar aqui em silêncio?” ajudam a convidar o paciente a refletir sem se sentir cobrado.
4. Observe o não verbal
A linguagem corporal, o olhar e a respiração também comunicam. Às vezes, o corpo fala antes das palavras. Registrar essas percepções é essencial para entender o padrão de comportamento.
5. Explore o vínculo
Se o silêncio se repete em momentos específicos, por exemplo, sempre que surge determinado tema, pode haver algo sendo evitado. Explorar o que acontece entre terapeuta e paciente nesses instantes ajuda a compreender resistências e transferências.
Essas são algumas formas de agir com sensibilidade e técnica quando o paciente não fala na terapia, respeitando o ritmo do processo.

Quando o silêncio exige intervenção
Nem todo silêncio é seguro. Em alguns casos, ele pode sinalizar bloqueio profundo, ansiedade intensa ou até risco emocional.
É importante observar sinais de alerta: mudanças bruscas de humor, retraimento extremo, dificuldade de contato visual e respostas muito curtas por longos períodos. Nessas situações, o profissional pode precisar intervir de forma mais ativa, seja com perguntas diretas, técnicas projetivas ou mudanças de foco temporárias.
Segundo estudo publicado na Frontiers in Psychology (2024), terapeutas que reconhecem e abordam o silêncio de forma empática tendem a fortalecer o vínculo e reduzir a evasão de pacientes.
O papel do registro clínico no prontuário para psicólogo
Registrar esses momentos é tão importante quanto lidar com eles. Ao anotar o contexto em que o silêncio aparece, qual tema estava sendo tratado, o tempo de duração e como o paciente reagiu depois, o profissional constrói uma visão mais clara sobre o processo terapêutico.
O uso de um prontuário eletrônico é muito importante nesse processo. Ele permite que o psicólogo registre detalhes das sessões de forma organizada e segura e facilita a análise de padrões e a continuidade do acompanhamento. Assim, o terapeuta tem mais dados para refletir e ajustar o plano terapêutico de maneira mais assertiva, sem perder o aspecto humano e subjetivo do cuidado.
Lidando com o próprio desconforto
Outro ponto essencial é olhar para si próprio. O silêncio do paciente pode despertar insegurança, impaciência ou até o medo de “não estar ajudando”. Mas é na capacidade de “ficar junto, mesmo sem palavras”, que o vínculo se fortalece.
Refletir sobre o que o silêncio desperta em si mesmo, e trazer isso para supervisão quando necessário, é parte do crescimento profissional.
O silêncio é parte do processo
Saber o que fazer quando o paciente não fala na terapia é um dos desafios mais sutis da prática clínica. Às vezes, o silêncio é parte do processo; em outras, um pedido de ajuda que ainda não conseguiu ser verbalizado.
Escutar o que não é dito exige sensibilidade, presença e técnica. E, quando combinado com um bom registro clínico, que pode ser apoiado por recursos inteligentes, como um bom prontuário eletrônico, esse olhar se torna ainda mais completo, com o objetivo de acompanhar a evolução do paciente com precisão e empatia.
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